Água para o Futuro
Num rápido passeio pela Serra da Mantiqueira, observamos que nos últimos anos a exploração imobiliária vem ocorrendo de maneira insidiosa, mas constante. A construção de casas para veraneio tem acontecido em diversos lugares. Muitos sonham em ter uma casa no campo, onde possam desfrutar da paisagem e do clima serranos. Acontece, porém, que o frágil bioma mata atlântica não suporta o impacto causado pelo homem, que ameaça o pouco que resta desse patrimônio natural. Além disso, a construção em área de mananciais gera impermeabilização do solo, remoção florestal e aumento de lançamento direto de lixo e esgoto em cursos d’água.
Apesar de a Mantiqueira ser considerada área de proteção, da existência do código florestal e de inúmeras outras leis para proteger o meio ambiente, a fiscalização por parte dos órgãos responsáveis é precária, além de serem feitas vistas grossas frente aos agravos. Assim, é fácil concluir que grande parte da falta de água na região observada nos últimos anos é decorrente da relação predatória do homem com a natureza. Insistir neste erro é um caro preço a ser pago em troca do conforto.
Para interromper essa situação, torna-se necessário maior eficiência à fiscalização florestal, o que só deverá ocorrer se houver ampliação e melhor aparelhamento dos efetivos da polícia florestal em locais de importância estratégica.
A fauna e a flora não são os únicos recursos naturais a sofrer agressões na Mantiqueira. Mananciais, várzeas, solos agricultáveis e conjuntos paisagísticos também precisam ser defendidos da dinâmica fundiária. O parcelamento indiscriminado das propriedades deve ser fiscalizado e a expansão urbana tem de ocorrer dentro de parâmetros ambientais aceitáveis. A perda da Mata Atlântica nas encostas serranas e a ocupação dos mananciais crescem e podem contaminar toda a água ainda disponível. É importante mudar a visão da sociedade brasileira para que ela deixe de considerar a água apenas como um bem a ser consumido e passe a entendê-la como suporte para a vida. Pensar a Mantiqueira é se empenhar, cobrando das autoridades a execução de um plano de manejo para a região serrana. É trabalhar para a recuperação de nossas nascentes, o que envolveria, entre outras ações, o pagamento por serviços ambientais a proprietários que possuam nascentes em suas terras. É o chamado investimento em infraestrutura verde – intervenção que não traz resultados a curto prazo, mas que precisam ser iniciados. Recompor com espécies nativas áreas degradáveis faz-se necessário. Plantar florestas é plantar água.
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