Dentro do complexo das manifestações do ciclo de Natal, é comum, no interior de São Paulo, a apresentação da Folia de Reis.
As chamadas Folias de Reis, Ternos de Reis, Tirada de Reis, Santos Reis, Reisados ou simplesmente Reis são grupos que, por devoção, gosto ou função social peregrinam de casa em casa no período compreendido entre o Natal e 6 de janeiro (dia de Reis). Em cantoria fazem uso de temas religiosos: das Profecias do Nascimento do Menino Jesus à visita dos Reis Magos. Cumprem, sempre, os mesmos rituais de chegada e despedida.
A palavra folia surgiu em Portugal, para indicar um tipo de dança muito barulhenta, executada por homens vestidos de mulher, em grande algazarra, tendo ao fundo um acompanhamento feito por pandeiros. A folia, em Portugal, é executada junto a um grupo de reiseiros, homens e mulheres que usam coroas e cantam de porta em porta anunciando a chegada dos Reis Magos.
Os demais acompanhantes usam máscaras pintadas com bigodes e sobrancelhas e, na rua, têm como papel fundamental assustar as crianças e as mulheres com um espeto que trazem nas mãos, além dos chocalhos pendurados à cintura, para fazer bastante barulho.
As Folias de Reis com máscaras aparecem também em outros países e têm similitudes com as nossas celebradas no Nordeste, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo.
Basicamente a festa comemora a visita que os três Reis Magos – Belchior, Gaspar e Baltazar – fizeram ao Menino Jesus recém-nascido. Só que, entre nós, a festa conta com a participação de dois palhaços, que representam a figura dos espiões de Herodes. Ou seja, o Rei Herodes os teria enviado a Belém com a incumbência de matar o Menino Jesus. Mas ao encontrá-Io, os dois ajoelharam-se e passaram a adorá-Io, arrependidos. Depois, com medo de que Herodes mandasse matá-Ios por desobedecer-lhe as ordens, seguiram com os Reis Magos, passando a pedir esmolas de porta em porta.
A festa de Reis consta, essencialmente, da “Tirada de Reis”. Os ensaios começam, em muitos lugares, nos meados de novembro, quando é comum ouvir-se o bater seco dos tambores e a voz estridente dos cantadores. Reúnem-se os integrantes da Folia de Reis formando a chamada “companhia”. Não há número certo de participantes. Uma “companhia” pode ter de seis até vinte ou mais elementos. De modo geral, conta com as seguintes figuras: o mestre-violeiro ou embaixador ou capitão da companhia; o contramestre, também violeiro; o alferes da bandeira, porta-bandeira ou bandeireiro; e um, dois ou três palhaços, chamados de Pai aço ou Sebastião, Bastião e Marungo.
Os outros figurantes respondem com versos cantados pelos violeiros, em intervalos diferentes. Os demais apenas reforçam o coro e tocam outros instrumentos como caixa, cavaquinhos, pandeiros, triângulos, todos enfeitados de fitas multicores. As roupas usadas durante uma folia são bastante variadas. Os foliões têm ampla liberdade para se vestir. Os palhaços vestem calças e blusões ou macacões, que devem ser de chita estampada de cores berrantes, máscaras feitas de couro ou papelão, com barbas e bigodes e barretes de forma cônica.
A tiracolo levam uma sacola onde guardam o dinheiro recebido.
A “bandeira dos Santos Reis”, levada pela “companhia”, ostenta a figura do Menino Jesus e dos três Reis Magos. É forrada de fitas, santinhos e medalhas ali colocados pelos crentes.
Saem pelas ruas cantando e dançando. Ao chegar às casas, com a bandeira na mão, em frente de um altar ou oratório, contam os foliões a história da viagem dos três Reis Magos ou a do nascimento do Menino Jesus. Depois angariam donativos, que podem ser em dinheiro ou frangos, leitões e doces diversos, para um “ajantarado”, no dia 6 de janeiro, com a participação de todos os que formam o grupo. Agradecem e despedem-se. As partes cantadas são, em geral, licença, viagem dos três Reis (ou nascimento de Jesus), pedido de ofertas, agradecimento e despedida. O canto é iniciado pelo mestre e pelo contramestre, ordinariamente em terças e depois repetido pelos demais figurantes, às vezes, em harmonia de três sons; nos finais, apresenta efeitos harmônicos de três, quatro, cinco e seis sons.
Texto: Antônio Carlos Monteiro Chaves
Leave a reply