“Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.”
Carlos Drummond de Andrade
Os homens, através dos tempos, sempre se preocuparam com o registro de seus feitos em imagens gravadas. Com o advento da fotografia, esta, enquanto documento iconográfico, passou a ter valor histórico, uma vez que ressuscita épocas, fatos e feitos muitas vezes distantes e, por intermédio da memória, nos proporciona várias releituras.
Quando se olha para uma fotografia, as reações provocadas são as mais variadas, indo do simples olhar contemplativo ao inquiridor, inquieto, curioso, descobridor… Sentimo-nos atraídos pela imagem, tornamo-nos presos, como que hipnotizados, e penetramos através da estampa gravada.
É impossível ficarmos indiferentes diante de fotografias amareladas, muitas vezes evanescidas pelo tempo, principalmente quando reproduzem nosso espaço mítico-afetivo e nos suscitam múltiplas emoções.
A fotografia, quando vista, evoca lembranças, resgata sentimentos e emoções há muito adormecidos. Faz o indivíduo reviver fatos guardados nos arquivos da memória e por muitos anos esquecidos.
Nesse momento, a foto age como um estopim que detona mecanismos de lembranças e transforma-se num passaporte que nos possibilita uma viagem pelos ontens. Por elas, tomamos conhecimento das relações humanas, a ocupação dos espaços físicos, os encontros e desencontros, a religiosidade do povo e sua relação com o meio ambiente, o trabalho, o poder. Alcançamos, portanto, seu cotidiano.
Esta exposição objetiva, portanto, não só recuperar nossa memória fotográfica, mas entender e divulgar as mudanças operadas na paisagem durante as cinco primeiras décadas do século XX, em Piquete.
Daí serem fotos de vistas da cidade em processo de urbanização: seu casario, igrejas, ruas e praças. Procuramos dar uma visão panorâmica do crescimento e desenvolvimento da antiga Vila Vieira do Piquet, cuja origem remonta ao século dezoito, quando da abertura de um caminho para as Minas Gerais. As margens dessa via foi instalado, em 1764, um Registro para controle fiscal que, com sua guarda, deu origem ao Bairro do Piquete, cujo crescimento espontâneo ocorreu paulatinamente. Ainda no século XIX, construiu-se uma capela sob a invocação de São Miguel. A comunidade articulou-se politicamente e o bairro emancipou-se em 1891.
Vila pequena e pobre, Theodoro Sampaio, ao passar por aqui em 1893, a descreve como localizada “em sítio cujo relevo topográfico não é dos mais favorecidos, não se distingue senão pelo aspecto da paisagem que o rodeia. Modestas casas o longo de ruas tortuosas e desniveladas que a pequena Igreja domina do alto de uma colina, algumas fazendas de risonha aparência, com pastagens que vêm morrer à entrada do povoado…”.
A Vila só se modificaria em 1902, com a vinda do Marechal Mallet, que, a convite do Barão da Bocaina, deveria escolher na região local para construção de obras militares. Edificou-se, de imediato, o Sanatório Militar no alto da serra; em consequência, o ramal férreo Lorena – Benfica e a Fábrica de Pólvora sem Fumaça. Tais obras trouxeram desenvolvimento para o povoado.
As fotos selecionadas retratam do bucolismo da antiga Vila Vieira do Piquete, que, como “enternecedor presépio”, foi gradativamente subindo encostas e ocupando as orlas do caminho, até a Vila de São José, construída pelos operários, e o “bairro chic” da Vila da Estrela, estruturada com planejamento, servida por água, luz, troles e bondes.
Esses três núcleos, com o passar dos anos, foram interligados com a construção da Praça da Bandeira e da Vila Duque de Caxias.
Nosso desejo maior é que cada um seja um protagonista das diferentes gradações registradas e possa, num recurso memorialístico, resgatar um pouco da história deste rincão engastado na serrania da Mantiqueira.
4 Comments
Uma pequena crítica construtiva: faltaram as legendas dos locais…
Olá, Júlio.
Se você clicar nas fotos, conseguirá acessar as legendas. Todas as imagens estão com as legendas.
Agradecemos o contato e a mensagem.
Muito obrigado por resgatar um pouco da história de Piquete, minha terra minha gente. É muito bom conhecer o passado da nossa cidade, é pura cultura!
Ficamos felizes por ter gostado.
Obrigado pelo comentário!