Há setenta anos, na manhã do dia 19 de novembro de 1955, às 8h, com a presença de autoridades civis, militares e eclesiásticas, era solenemente inaugurado em Piquete o majestoso Pórtico de entrada da zona militar da Fábrica Presidente Vargas.
A inauguração, a princípio, estava marcada para o dia 15 de novembro, como registra a placa alusiva ao ato, data em que se comemora a proclamação da República. Aconteceu, porém, que no dia 8 de novembro uma crise cardíaca levou ao hospital o então Presidente da República, Café Filho. Assumiu o governo o Presidente da Câmara, Carlos Luz. No dia 11, o General Lott, Ministro da Guerra, destituiu Carlos Luz, por suspeita de golpe. Assumiu a presidência Nereu Ramos, vice-presidente do Senado.
Devido a esses acontecimentos inesperados e à expectativa do desenrolar dos fatos, a inauguração, ainda que adiada para o dia 19, aconteceu, apesar da ausência da ausência de autoridades militares convidadas.
A cerimônia teve início com discurso proferido pelo diretor da Fábrica, Cel. Edgard de Abreu e Lima. Em seguida, foi convidado o Bispo Diocesano, Dom Luiz Gonzaga Peluzzo, para descerrar a placa comemorativa, que apresenta os seguintes dizeres:
PÓRTICO
“Inaugurado em 15 de Novembro de 1955
Chefe do D.T.P, Gen. Ex. Angelo Mendes de Moraes
Sub-chefe do D.P.P. Gen.Div. Gélio de Araújo Lima
Dir. de Fabricação Gen. Altair de Queiroz
Diretor Geral – Cel. Edgard de Abreu e Lima
Diretor Técnico – Ten.Cel. Pedro Augusto Sisson da Silva Tavares
Chefe da Div. de Obras – Major Leônidas Pinto Pacca
Projeto e baixo-relevo – Professor Antônio César Dória”
Com o descerramento da placa e a bênção dada pelo Capelão da FPV, Padre Lucas Gianetti, estava inaugurado o Pórtico. Em seguida, desfilaram alunos do Departamento Educacional e soldados do Contingente de Segurança, ovacionados por grande massa popular.
O Pórtico foi projetado pelo professor Antônio César Dória, lente do Departamento de Assistência Educacional da FPV, diplomado pela Escola Nacional de Belas Artes.
O cálculo das fundações e da estrutura, bem como a construção, constituiu trabalho do Major Engenheiro Construtor Leônidas Pinto Pacca. A execução dos baixos relevos foi do próprio professor Dória, auxiliado na parte de montagem e massas pelos servidores Illydio Moura da Silva e Luiz Dotta.
Apresenta o monumento quatro painéis decorativos de 5,10 x 3,20 metros cada um, dois voltados para a cidade de Piquete (face anterior) e dois, para a zona militar, simetricamente dispostos, além de três medalhões em cada uma dessas faces, localizados na parte superior do Pórtico. Os do frontão anterior reproduzem as Armas da República e as efígies do Presidente, Dr. Francisco de Paula Rodrigues Alves, e do Marechal Francisco de Paula Argolo, Ministro da Guerra (1902-1906). Na face posterior, em correspondência ao medalhão das Armas da República, encontra-se a transcrição dos dizeres da placa comemorativa da inauguração da Fábrica de Pólvora sem Fumaça, ocorrido em 15 de março de 1909.
A placa original, bela peça de bronze, foi instalada inicialmente na chaminé da Casa da Força, bem visível, ao lado da qual havia passagem normal de pedestres e veículos, em local amplo e de fácil acesso. Deixou de ser visível, posteriormente, com as construções que foram sendo levantadas. Hoje a placa se encontra no Cassino dos Oficiais, na Vila da Estrela.
Nos dois medalhões que ladeiam aquela transcrição encontram-se as reproduções de diplomas concedidos à Fábrica de Pólvora sem Fumaça por congressos internacionais.
Para facilitar a identificação dos painéis, o observador, vindo pela Avenida Luiz Arantes Júnior, deverá olhar de frente para o Pórtico. O painel da esquerda é o número 1 e o da direita, o número 2. Correspondentemente a esses, na face posterior, estão os de número 3 e 4.
Painel nº 1: Homenagem à Pátria Brasileira: uma figura de mulher com indumentária clássica (peplo), tendo à cabeça o barrete frígio, símbolo da República, empunha o pavilhão nacional e tem na mão direita um ramalhete de flores. Dezoito figuras representam o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, o clero e civis em aclamação à Pátria.
Painel nº 2: Homenagem às classe armadas: destaca-se neste painel a figura do Patrono do Exército, Duque de Caxias, em tamanho natural, a cavalo e em ação. Vê-se, ainda, o Patrono da Marinha, Almirante Tamandaré, em tamanho natural, a bordo de uma corveta, e o Patrono da Aeronáutica, Alberto Santos Dummont, surgindo de uma grande asa, tendo à retaguarda, em perspectiva, a figura de Ícaro. Um capitão dos Dragões da Independência, a cavalo, rende-lhe homenagem. Três oficiais, um de cada Arma, de espadas abatidas, prestam continência.
Painel nº 3: Alegoria à Fábrica Presidente Vargas: um Titã demolindo dois blocos de granito simboliza a força dos explosivos. À retaguarda dessa figura, uma engrenagem caracteriza a indústria. Ao fundo, vê-se a Serra da Mantiqueira com os picos dos Marins e da Meia Lua. Ladeando a passagem de pedestres, vê-se em perspectiva um trecho da FPV. Uma figura masculina simbolizando o trabalho tem na mão um malho e, à frente, uma bigorna. Simetricamente, do outro lado da mesma passagem, uma figura feminina representando a FPV empunha a flâmula do estabelecimento e ampara duas crianças simbolizando a Assistência Social que é dada aos seus servidores.
Painel nº 4: Alegoria à Técnica: coroando este painel, uma grande figura de águia está à retaguarda do vulto do renomado químico francês, Paul Vieille, inventor da pólvora sem fumaça, que se acha apoiado sobre um livro, símbolo da Ciência, tendo ao lado uma retorta e um gral. Uma torre de transmissão representa a técnica das Comunicações e Eletrônica e uma ponte em arco, a Engenharia de Construção. Uma explosão atômica, caracterizada pela silhueta de um cogumelo, e um avião a jato lembram os últimos progressos nesses setores. A alegoria ainda registra um canhão antiaéreo ladeado por dois oficiais e um tanque de guerra.
Com a inauguração do Pórtico, não só o município de Piquete passou a incorporar ao seu patrimônio artístico, arquitetônico e cultural uma obra de incontestável beleza, mas todo o Vale do Paraíba.
Nesse trabalho, o professor Dória, com sua sensibilidade, modelou episódios da história pátria. Essa não é uma obra só de Piquete, mas registro da ação militar em nossa cidade para todo o Brasil.
Notas biográficas:
Antônio César Dória nasceu aos 11 de setembro de 1903, à rua Marquês de Olinda, nº 11, no bairro do Botafogo, no Rio de Janeiro. Era o quarto filho de José César Dória e Maria Joaquina de Portugal. Cursou o Colégio Pedro II, onde se preparou para o ingresso na Escola de Belas Artes, o que ocorreu no ano de 1925, tendo sido aluno de Rodolfo Bernardelli e colega de Cândido Portinari.
Casou com Dona Guiomar César Dutra e tiveram quatro filhos.
No ano de 1942, aconteceu no Rio de Janeiro uma exposição do Exército, da qual constava uma maquete da Fábrica Presidente Vargas. Na viagem para o Rio, a maquete foi danificada. O major José Pompeu Monte, representando a Fábrica, foi até a Escola de Belas Artes a fim de contratar um artista para recuperação da mesma. Lá, foi-lhe indicado, pelo diretor da Escola, o jovem César Dória.
Após a exposição, César Dória foi convidado para trabalhar na Fábrica, em Piquete. Foi admitido na Divisão de Construção, como Operador Especializado.
A 14 de abril de 1947, foi transferido para o Departamento Educacional.
No mês de outubro de 1949, passou a ser Diretor do Ginásio Industrial da FPV. Naquele Departamento, na qualidade de educador, o professor Dória jamais poupou esforços para elevar o nome da FPV. Educou várias gerações de piquetenses.
Em 15 de março de 1961, ingressou, por mérito, no Quadro de Honra da FPV.
A 15 de maio de 1969, o Ministro do Exército outorgou-lhe a Medalha de Pacificador, como homenagem especial do Exército e pela colaboração prestada aos eventos e datas festivas da FPV, do Exército e da Pátria.
Em fevereiro de 1969, a Câmara Municipal de Piquete concedeu-lhe o título de “Cidadão Piquetense”.
Antônio César Dória faleceu em Piquete aos 26 de novembro de 1972.
Pesquisa de Antônio Carlos Monteiro Chaves
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