Residência do casal Tenente Coronel Luiz Francisco Relvas e Mariana Domiciana de Castro, situada à margem direita da antiga estrada Lorena – Itajubá. A casa abrigou um grande armazém.
Em terreno contíguo ao citado estabelecimento comercial erguia-se um movimentado rancho para tropeiros. O coronel Relvas vendeu o negócio para dois portugueses: Maximiano Diniz de Oliveira, que havia emigrado para o Brasil com 14 anos de idade, e Manoel Ribeiro, vindo do Rio de Janeiro. Foram seus sucessores Joaquim de Castro e José Edmundo Cidade Pfeil.
Obs: o empório Castro & Pfeil vendia de tudo: artigos de seleiros, ferragens, materiais de construção (inclusive cal e telhas), forragens, armarinhos e secos e molhados. Na década de 1930, ao lado da casa, como se pode observar na foto 01, foi colocada a primeira bomba para abastecimento de combustível da cidade.
Atualmente, é o último remanescente de construção urbana do século 19 no município e pertence à família de Gabriel Benfica.
Mariana Domiciana de Castro nasceu na Fazenda da Limeira, em 1868, grande propriedade agrícola produtora de café em Piquete. Era a filha mais velha do casal Auzelino Monteiro de Castro e Maria Domiciana Vieira da Silva Castro, que teve outros três filhos: Antônio, Maria Domiciana e Francisco.
Mariana trazia na sua herança genética, do lado paterno, as referências do clã iniciado por Antônio Domingues Pereira, antigo povoador da Vila de Lorena e primeiro sesmeiro em terras piquetenses. Pelo lado materno, descendia de Francisco Vieira da Silva, tropeiro e grande produtor de fumo em sua propriedade, a Fazenda da Barra, cuja sede ainda resiste no município de Delfim Moreira, MG. Seu avô, Francisco Vieira da Silva, era grande latifundiário, com terras nas vertentes paulista e mineira da Serra da Mantiqueira. Seus tios tornaram-se fazendeiros de café no Bairro do Piquete, e dois deles – Joaquim Vieira Teixeira Pinto e o comendador Custódio Vieira da Silva – se destacaram na política e foram os principais responsáveis pela emancipação desse bairro, em 1891.
Em 1874, sua mãe, Maria Domiciana Vieira de Castro, faleceu em decorrência de complicações no puerpério, deixando os filhos ainda pequenos – Mariana, com 6 anos; Antônio, com 4; Maria, com 2, e Francisco, com 45 dias. Em seu inventário, além da Fazenda da Limeira, que recebera como dote por ocasião do casamento, deixou grandes extensões de terras com cafezais, além de uma residência em Piquete cujas referências deixam claro ser grande e luxuosa. São arrolados, ainda, 35 escravos, sendo 11 africanos de nação, 24 crioulos e 4 ingênuos.
Apesar da ausência da mãe, D. Mariana e a irmã foram criadas, educadas e bem instruídas nas prendas domésticas. Em 8 de janeiro de 1884, no oratório particular da Fazenda da Limeira, casou-se com Luiz Francisco Relvas. Foram testemunha desse enlace seu tio, o comendador Custódio Vieira da Silva, e o doutor Antônio Rodrigues de Azevedo, futuro Barão de Santa Eulália. Luiz Relvas era português, nascido em Villarinho do Bairro, em 6 de outubro de 1864. Comprou do sogro a Fazenda da Limeira e também a casa referenciada no testamento da sogra, onde residiu por toda a vida. Manteve grande comércio em Piquete e seu estabelecimento foi, por muito tempo, o maior do município. Situado à margem direita da estrada Lorena – Itajubá, a residência de Relvas e Mariana, onde também se localizava o estabelecimento comercial, ficava próximo a uma antiga sede de fazenda que havia pertencido a Joaquim Vieira Teixeira Pinto, também adquirida pelo casal. Essa casa sede, entre 1913 e 1939, foi alugada para abrigar o Grupo Escolar de Piquete.
O estabelecimento do coronel Relvas, além dos artigos secos e molhados, contemplava, ainda, uma loja de armarinhos e uma seção de materiais agrícolas, com peças de selaria. Em terreno contíguo erguia-se um bem montado rancho para tropeiros. Diariamente, caravanas de animais de carga, provenientes de Minas Gerais, chegavam e descarregavam suas mercadorias. Às sextas-feiras e sábados, arranchavam todas as semanas, entre dez e doze tropas, compostas, cada uma delas, por mais de uma dezena de muares, que transportavam produtos do e para o sul de Minas.
Relvas foi eleito vereador em 1895. Em 30 de julho do mesmo ano, assume a Intendência Municipal da Vila Vieira do Piquete. Em 1898 é reeleito vereador, sendo Presidente da Câmara. Permaneceu por toda sua vida política filiado ao Partido Republicano Paulista.
Após a morte do Coronel Relvas, em 5 de maio de 1924, os negócios foram administrados pelos portugueses Manuel Ribeiro e José Paz. Mais tarde, a condução desses negócios passou para a firma “Castro & Pfeil”, constituída por Joaquim de Castro (Joca), sobrinho de D. Mariana, e seu sócio e cunhado, José Edmundo Cidade Pfeil, casado com D. Lourdes de Castro. Enquanto residiu em Piquete, D. Mariana, tradicionalmente levava, em uma bandeja de prata, hortênsias – as preferidas de Relvas – ao túmulo do marido, em sinal de sua eterna dedicação – essa história foi-nos contada por Maura Mineiro, que acompanhava D. Mariana ao cemitério. D. Maura e sua mãe, afilhada de D. Mariana, nasceram, ambas, na Fazenda da Limeira.
Mariana Relvas sempre foi muito unida à irmã, Maria Domiciana de Castro, casada com o primo, Auzelino de Castro. Esse casal teve oito filhos e, como D. Mariana não teve descendentes, dedicou grande atenção aos sobrinhos, em especial à Maria José de Castro (Mazeca) e Auselino de Castro.
Muito religiosa, D. Mariana sempre colaborou com as obras assistenciais da Igreja católica. A pobre paróquia de São Miguel, de Piquete, sempre careceu do apoio dos paroquianos e D. Mariana colaborava com ofertas generosas. No livro do tombo da Matriz está registrado, no ano de 1934, uma doação sua de uma imagem de São Miguel Arcanjo, padroeiro da cidade, adquirida no Rio de Janeiro. A imagem tradicional do altar havia sido doada por seu tio, Custódio Vieira, quando da criação da freguesia, em 1875. Coube a ele e a Joaquim Vieira Teixeira Pinto grande parte da construção dessa matriz. Nesse mesmo ano de 1934, doou uma “cortina adamascada” roxa, de “alto custo”, a ser utilizada à entrada da igreja durante a Semana Santa. Coube a ela, também, a construção das primeiras cinco casas da Vila Vicentina, de Piquete, em 1940, e, ainda, a doação do terreno onde se acha instalado o Santo Cruzeiro da cidade, em uma colina em frente à igreja matriz da época.
Consultando os livros de casamentos e batizados da paróquia de São Miguel, encontra-se grande número de afilhados do coronel Relvas e de D. Mariana, o que evidencia o grande carinho a eles dedicado pela população piquetense. Da atual zona urbana de Piquete, muitos bairros foram construídos em terrenos que pertenceram ao casal.
Mariana Relvas faleceu em Lorena, na década de 1940.
Pesquisa de Antônio Carlos Monteiro Chaves
Leave a reply