Meus Carnavais
Neste sábado de Carnaval, releiam “Meus Carnavais“, crônica do Yeyé Masiero publicada originalmente na edição de nº 25 do informativo O ESTAFETA, de fevereiro de 1999.
Meus Carnavais
O Carnaval passou. Frente à TV eu passei vendo o Carnaval passar. Meus Carnavais encontram-se hoje nos arquivos da memória. Mas, sem dúvida, foram os melhores de todos os tempos. Sem saudosismo. Eu era jovem. Alegre. No bom sentido.
Ali sentado, comecei numa divagação sobre o que se cantava, principalmente no salão do Grêmio General Carneiro, e divertia-me com as letras. A primeira música que pintou na memória foi CHIQUITA BACANA, que vestida apenas com uma casca de banana nanica virou pura fantasia erótica. Atualmente, com essa vestimenta, não desfilaria nem em bloco puritano. Já a EMÍLIA, além de ser boa de tanque e de cozinha, preparava um café como ninguém. E a AURORA, se fosse um pouquinho mais sincera, poderia ter até madame antes do nome, apartamento com porteiro e ar refrigerado. Chegando em casa e não a encontrando, gritava HELENA, HELENA… O sol raiou e neca dela. Por que será? Enquanto isso, a MARIA CANDELÁRIA pulou de paraquedas e caiu na letra “O”, salário de marajá na época. Inversamente, outra Maria, levando a criança pela mão, subia o morro com a LATA D’ÁGUA na cabeça para lavar roupa, na luta pelo pão de cada dia.
No ronca-ronca da cuíca todo mundo a anunciar: É COM ESTE QUE EU VOU! Eu, heim!!! Qual seria o pente capaz de pôr ordem na melena da NEGA DO CABELO DURO? Um pergunta insistente era dirigida ao MAL-ME-QUER: “O meu bem ainda me quer? Na MARCHA DO GAGO, o coitado não conseguiu chegar até lá e… pimba!, virou piada de salão.
Sorri ao lembrar-me do querido “seu” Queiroz, vizinho lá da Avenida, satisfeito exibindo sua lustrosa careca no salão, pois, de acordo com a marcha NÓS OS CARECAS, a cabeça calva era a preferida pelas mulheres (Eu, como sempre, em época errada, tinha cabelo!).
Bom é que todo mundo levava a vida SASSARICANDO. Quem não tinha seu sassarico, sassaricava só. Para colocar ordem na casa, nada como um GENERAL DA BANDA, vara madura que não cai. Lá onde jogavam sinuca surgiu uma NEGA MALUCA dizendo: “Toma que o filho é teu!” Pede exame de DNA, cara! A situação apertava, mas a turma não. Com a maior cara-de-pau, pedia; ME DÁ UM DINHEIRO AÍ! Tanto riso, tanta alegria, mais de mil palhaços no salão e eu jamais encontrei minha MÁSCARA NEGRA. Ó sina!
À época achávamos que CACHAÇA era água e garrafa cheia não podia ficar sem o SACA-ROLHA ao lado. Éramos da TURMA DO FUNIL, todos bebiam e ninguém dormia no ponto. Às vezes, na grama.
Esses Carnavais passaram. Deixaram felizes lembranças e uma tristeza: não fui só eu que envelheci. AI, AI, BROTINHO, a gente pedia por favor, não cresça, meu brotinho e nem murche como a flor. Em vão. Cresceram.
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