O Boi de Carnaval
Por ocasião do Carnaval, é comum encontrarmos pelas ruas de Piquete o tradicional “boi-de-Carnaval”, variante pobre dos folguedos de boi das regiões Sul, Norte e Nordeste do Brasil. Trata-se de um grupo de jovens em que há um “toureiro” que lida com o boi e alguns mascarados alegres acompanhados de duas ou três “burriquinhas”. A figura principal – o boi – é uma armação de madeira e taquara recoberta de tecido, no qual são pintados os contornos básicos do animal, sem maiores requintes.
A cabeça é um crânio de boi com chifres pintado e fixado à armação do corpo. Dentro desta vai um rapaz que tem as funções de fazer com que o animal ganhe vida – ande, corra, dance, pule o tempo todo e assuste o povo com inesperadas corridas e bufadas características. Um estribilho era comum até há algum tempo:
“Avança, avança, meu boi,
Pro lado que tem mais gente”.
As burriquinhas, também feitas de bambu, montadas por rapazes encapuzados, acompanham o boi, protegendo-o. Mascarados provocam o boi, que investe sobre o público presente às ruas, divertindo-o.
Variantes desse folguedo existiram em outras cidades do Vale do Paraíba e Litoral Norte. Parece-nos, no entanto, que apenas Piquete mantém viva essa tradição. Na cidade, a partir de janeiro, por diversas ruas, logo no início da noite, grupos de crianças e seus bois saem para brincar.
Não é possível precisar quando o boi foi introduzido em Piquete. Segundo Carlos Vieira Soares, incansável defensor da cultura piquetense, o boi-de-Carnaval já existia por aqui em 1927, quando um grupo fantasiado, composto por mais de quinze pessoas e comandado pelo senhor Brasiliano Costa, cantava músicas carnavalescas acompanhando um Boi. Dentro da armação ficavam escondidos dois homens: um na frente, olhando por um buraco, e outro na rabada, equilibrando-se e dividindo o peso. Carlos Vieira relata também que, mais tarde, apareceu o boi organizado pelo senhor Jorge Marques e, em seguida, o do senhor Albino Rodrigues Pereira, que também fizeram grande sucesso. Na década de 1950, tivemos o afamado “Boi do Olavo Pinho” alegrando o nosso Carnaval, só que agora com apenas um homem dentro da armação. Mais tarde, vieram o boi do Ledo Moreira, o da Caixa D’água, que, no início, era construído por um grupo liderado pelo Nê Pacheco; já há mais de vinte anos, ficou sob a responsabilidade do Anderson Di Marchi, o “Sugala”.
Essa manifestação espontânea do nosso Carnaval é única, é piquetense. Precisa ser preservada.
Antônio Carlos Monteiro Chaves
Se você quiser ler, ainda, uma crônica do Chico Máximo sobre o Boi de Carnaval, ela está no livro “Crônicas de Cidadezinha”, que você pode acessar clicando AQUI.
Boi de Carnaval feito pelo Anderson “Sugala” Di Marqui no SESC, em São Paulo, representando a cultura de Piquete.
Boi de Carnaval feito pelo Anderson “Sugala” Di Marqui no SESC, em São Paulo, representando a cultura de Piquete.
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