Estrela F.C. – 110 Anos
No final da tarde do dia 14 de dezembro de 1914, um grupo de jovens operários da Fábrica de Pólvora sem Fumaça, de Piquete, se reuniu na Estação Ferroviária Rodrigues Alves para tratar da fundação de uma associação futebolística.
Após acaloradas discussões, apartes e acordos, estava criado o “Sport Club Estrela”.
Meses antes, os piquetenses haviam tomado conhecimento, pela primeira vez, do “foot-ball”, modalidade esportiva que, no final do século 19, havia chegado ao Brasil, trazido da Inglaterra pelo paulista Charles Miller. Em seus primeiros anos, o futebol era um esporte caro e elitista, restrito a uma parcela privilegiada da sociedade. No entanto, apresentava grande poder de sedução. Popularizou-se ganhando o espaço das várzeas e os terrenos baldios. Na capital paulista, berço do futebol brasileiro, os trabalhadores incorporaram a prática futebolística ao seu cotidiano, levando-o ao ambiente de trabalho. Era comum a brincadeira com uma bola no intervalo dos almoços. Diante desse clima arrebatador incentivado pela inserção de uma prática que começava a se disseminar por vários cantos do país, o futebol apoximou-se das fábricas. Logo, seus dirigentes passaram a enxergar com bons olhos esse esporte, apoiando as iniciativas dos operários. Era uma maneira de tentar estender o controle sobre o trabalhador e intervir em seu conjunto. Foi o que aconteceu quando surgiu em Piquete, com o Esporte Clube Estrela. Assim que foi criado, passou a contar, de maneira irrestrita, com o apoio do cel. Achilles Veloso Pederneiras, diretor da fábrica de Piquete, e de toda sua diretoria, que doou um terreno próximo à vila da Estrela para a construção de um campo e a edificação de seu estádio. Poucos clubes, naquela época, puderam contar com tão grande apoio. Os atletas operários recebiam incentivos e mantinham, de maneira metódica, treinamento, chaves, tiros à meta, escanteios, bola de cabeçada etc. Os treinos eram semanais e uma rígida disciplina foi imposta aos jogadores. Afinal, passaram a representar a Fábrica nas competições e campeonatos internos e da região.
Em suas diferentes fases, grandes craques surgiram para delírio da torcida. Na década de 1930, o Esporte Clube Estrela foi incorporado ao Departamento de Esportes da Fábrica, órgão vinculado ao Centro Social. A partir de então, foram muitas as conquistas do esquadrão estrelino. Ficaram na memória de antigos torcedores a conquista dos campeonatos de 1940 e 1948 e as disputas da 2ª Divisão do Campeonato Paulista de Futebol Profissional nos anos de 1959, 1972, 1973 e 1975.
O Estrela de Piquete, por muito tempo foi uma das forças do futebol valeparaibano. Disputou a 3ª Divisão do Campeonato Paulista de Futebol Profissional nos anos de 1957 e 1958 e de 1960 a 1971. Em 1976, com a criação da IMBEL, o Departamento Social da Fábrica foi extinto e, consequentemente, ocorreu a fusão entre o Esporte Clube Estrela e o Grêmio Duque de Caxias. Apesar do empenho de bons diretores e técnicos, sem o substancial apoio que recebia da Fábrica, o Esporte Clube Estrela foi diminuindo sua atuação. Em 1977, disputou seu último Campeonato Paulista de Futebol Profissional jogando na 4a Divisão. Hoje, restringe-se ao futebol amador.
Resta-nos dos áureos tempos do futebol em Piquete o campo do Estrela, com suas torres – verdadeiro patrimônio histórico –, onde gerações se emocionavam ao assistir às partidas do melhor time da região. Ainda hoje, ao adentrarmos o estádio do Estrela Futebol Clube, o coração pulsa acelerado, tal a força que dele emana. Ecoam o som dos apitos e o barulho das torcidas apaixonadas. Nestes cento e dez anos da fundação do Esporte Club Estrela, nossas homenagens a todos os que contribuíram direta ou indiretamente para as conquistas estrelinas, orgulho de gerações. Resgatar suas muitas histórias faz-se necessário. Estão aí alguns ex-jogadores de várias épocas que podem contribuir com esse trabalho.
Antônio Carlos Monteiro Chaves
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