A mais bela piquetense
Em 1948, o jornal “Folha de Piquete”, dirigido pelo professor Carlos Ramos, lançou um concurso que mobilizou toda a sociedade piquetense. Sob o patrocínio da conceituadíssima casa “A Confiança”, de Nélson Marinho da Costa, a população poderia escolher “a mais bela piquetense”. Os votos deveriam ser adquiridos ao preço de Cr$ 20, na redação do jornal ou na “A Confiança”, à rua José Salomão, 39.
Assim que o concurso se tornou público, a população se mobilizou. Na cidade, não se falava de outra coisa. O serviço de alto-falante instalado na Praça da Bandeira conclamava o povo a votar. O concurso era assunto na Escola Industrial, no Ginásio e Escola Normal, nos clubes, no Contingente, entre a torcida do “Estrela” e todo o operariado da FPV. Nomes eram citados e outros lembrados. Formaram-se torcidas. Quem seria sufragada como a mais bela piquetense?
Da lista da primeira apuração, publicada pela Folha de Piquete do dia 15 de setembro, constavam mais de vinte nomes: Maria José Meireles, Clélia de Castro Ferreira, Wonir Gomes, Maria Aparecida Alves, Suely Spolidoro e Rosina Dantas estavam entre as cinco mais votadas. A partir de então, houve um aumento do interesse pelo resultado final. Apostas eram feitas. A coroação da vencedora aconteceria durante um baile de gala a ser realizado na sede social da Associação Comercial de Piquete. Esse concurso despertou grande interesse em toda a cidade, de maneira que, após outras apurações publicadas, a “Folha de Piquete” do dia 10 de dezembro estampou o seguinte resultado: Primeiro Lugar: Manoelina da Silva Castro, com 7.210 votos; Segundo Lugar: Clélia de Castro Ferreira, com 6.940 votos; Terceiro Lugar: Geny Fernandes, com 6.920 votos; Quarto Lugar: Tereza Vaz dos Reis, com 6.170 votos; e Quinto Lugar: Hortência de Carvalho, com 5.350 votos. O jornal trazia, ainda, mais trinta outros nomes em ordem decrescente de votação. O encerramento da eleição aconteceu à meia-noite daquele dia e a última apuração foi publicada no dia 15, sufragando Manoelina da Silva Castro como a “Mais bela jovem piquetense” que iria reinar no ano de 1949.
A partir do resultado, o assunto da cidade passou a ser o suntuoso baile de gala marcado para acontecer às 22h do dia 28 de dezembro. Esse baile foi organizado para marcar época. E marcou! Muitos ainda o trazem presente na memória. A sede social da Associação Comercial de Piquete, construída pelo comerciante Nadras Raffoul, havia sido inaugurada dias antes pelo governador do estado de São Paulo, Adhemar de Barros. Tornou-se a “coqueluche” da época.
Nos dias que antecederam o baile, as moças se ocuparam com diversas visitas às modistas, para as provas dos trajes da noite. Os ternos foram mandados para engomar. Finalmente, chegou o tão esperado dia. O salão do clube foi ricamente ornamentado. As moças da cidade passaram horas se produzindo. A partir das 21h, começaram a chegar os primeiros convidados que, em pouco tempo, lotaram as dependências da Associação Comercial. Os rapazes, impecavelmente trajados, com cravos na lapela, cortejavam as moças, de “soirée”, que desfilavam pelo salão provocando suspiros pela graça e beleza. Pouco antes das 22h, chegaram as autoridades, entre elas toda a diretoria da Associação Comercial.
A noite foi musicalizada pelo Primeiro Jazz da FPV, com músicos como Portela, Viana, Luiz de Barros, Antônio Mota, Elói Bastos, entre outros. Num traje deslumbrante confeccionado por Najila Hankis, adentrou o salão a “Mais bela piquetense”, Lina de Castro, impressionando a todos pelo porte e beleza, fazendo jus aos votos recebidos. Após breves discursos do professor Carlos Ramos, diretor da Folha de Piquete e do Cel. José Pompeu Monte, foi coroada a mais bela piquetense de 1948/49, sob aplausos de todos.
Texto publicado originalmente na coluna “Imagem-Memória” do informativo O ESTAFETA, edição 108, de janeiro de 2006.
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