As tradicionais Festas Juninas
As festas juninas de hoje adaptaram-se aos tempos. Mantêm ainda, no entanto, sua magia, fazendo-nos reviver mitos e reunir centenas de pessoas, por todo o território brasileiro, em diversos “arraiais” armados em escolas, clubes e bairros.
No interior de São Paulo e no Sul de Minas há uma preocupação em comemorar essas festas nos moldes simples do homem do campo. Ao contrário das grandes cidades, que vão deixando de lado o caráter folclórico dessas festas, nas pequenas, as tradições sobrevivem.
Faz parte desses eventos saborear as comidas típicas ao som de sanfonas, apreciando, à luz da fogueira, a famosa quadrilha que tanto cativa e alegra. O caráter religioso não é esquecido, tanto que é comum a reza do terço antes do início das festividades.
As fogueiras
As fogueiras iluminam os terreiros da festa e aquecem as frias noites de junho. O modo de construí-las merece uma consideração à parte: a de Santo Antônio é quadrada; a de São João, redonda; e a de São Pedro, triangular. O festeiro designado para comandar os festejos de qualquer um dos santos de junho deve saber escolher o “Capitão de Mastro” e o “Alferes de Bandeira”, os quais organizarão a fogueira e tratarão da confecção da bandeira e de sua implantação no mastro. É adequado, também, fincar-se um pau-de-sebo no local da festa, para diversão. A fogueira centraliza a festa.
Casamento caipira
O casamento caipira acontece principalmente no dia dedicado a São Pedro. Em alguns lugares, essa cerimônia é conhecida também como “casamento na roça”. É uma paródia às cerimônias tradicionais. O cerimonial é precedido por um grande cortejo pelas ruas do lugar, no qual os principais personagens da representação são: a noiva grávida, o noivo, o delegado, o padre, os pais dos noivos, padrinhos etc. O enlace caricaturado desenvolve-se em meio à fuga do noivo, às indecisões da noiva e ameaças por parte dos pais, vigário e delegado. Os textos apresentam uma linguagem libidinosa e os sermões contêm fortes conotações crítico-sociais. Após a celebração do casamento, inicia-se a quadrilha.
A quadrilha
Apreciada e cantada nas festas, a quadrilha é uma dança francesa que tem raízes nas contradanças inglesas (country dance = dança rural), e surgiu no final do século 18. Essa dança desembarcou no Brasil com a família real portuguesa, em 1808. Somente a alta sociedade da época se divertia, em suas recepções, ao som da quadrilha. Com o tempo, esse modismo importado da França caiu nas graças do povo, passando, então, a integrar o repertório de cantores e compositores. Foi assim que a quadrilha deixou os salões aristocráticos, para entrar nas festas populares. Surgiram, então, no interior do país, as variantes, com a “quadrilha caipira”. Ainda hoje, a quadrilha é dançada no interior para homenagear os santos juninos e agradecer as boas colheitas da roça. O instrumento tradicional da quadrilha é a sanfona. A pitada que dá o toque especial às nossas festas juninas, porém, é a culinária de influência indígena, com comidas à base do milho: espigas de milho cozidas ou assadas, pamonha, cural, canjica, bolo de fubá, pipoca, além do amendoim e da mandioca.
Dessa maneira, unindo música, teatro e boa comida, as festas juninas expressam um rico imaginário sobre a vida cotidiana de um povo simples. É, antes de tudo, uma oportunidade em que se dança e se cantam os costumes herdados da sabedoria de nossos ancestrais. Sábios ensinamentos que o tempo se encarregou de deixar para trás, mas que nossa memória se nega a esquecer.
Folclore & Turismo
“Caminho da roça… Anarriê… Coroa de Rosas… Tour… Lá vem a chuva… A ponte quebrou…”
É possível que em outras cidades muitos desconheçam estas ordens de comando, mas em nossa Piquete, poucos não saberiam identificar este palavreado com os diversos passos ou movimentos de uma agradável dança de quadrilha.
A ornamentação caracteristicamente caipira, os foguetes, a música, o traje típico, a imprescindível fogueira e o arraial todo vestido de alegria incentivavam a natural manifestação popular.
De especial atenção se revestia o casamento caipira, com todos aqueles lances de comicidade sertaneja, dirigidos quase sempre pelo já tradicional “vigário”, a simpática “figura” do popular Zé das Moças.
Para o entretenimento da rapaziada, não podia faltar o “pau-de-sebo”. O valor do prêmio tinha importância secundária; de maior valia era a satisfação e o sentimento de heroicidade do moleque ao atingir o objetivo, depois de seguidas tentativas, sob o aplauso popular.
Quentão, mandioca, melado, o bolo do casamento e outros comestíveis completavam as alegrias juninas.
Todos esses atrativos representavam a mais pura e autêntica manifestação do sentimento popular, tão vivo em nossa cidade.
Durante o mês de junho, podiam ser constatadas várias “festanças” em vilas, escolas e fazendas, nascidas da iniciativa espontânea de amigos ou vizinhos de uma rua ou praça.
Em muitas cidades, a projeção alcançada por certos folguedos folclóricos provoca sua exploração como atração turística, haja vista as festas de São Benedito em Guaratinguetá e Aparecida ou a Festa do Divino em Cunha e em São Luiz do Paraitinga, entre outras.
Não seria esta mais uma oportunidade de se resgatar, estimular e propagar nossas festas juninas regionalmente, com objetivos turísticos?
Feita a sugestão aos órgãos competentes, fica a tarefa de se estudar sua viabilidade, tendo-se em vista os seus possíveis benefícios à nossa cidade.
Lenoel J. Gomes
Noites de junho
Há qualquer magia nas noites juninas. Algumas negras, melancólicas; outras enluaradas, alegres, porém, todas fascinantes.
A própria tradição das festas de Santo Antônio, São João e São Pedro fazem-nas barulhentas, cheias de crendices e folclóricas.
Sob bandeirolas multicolores, as quadrilhas dão a elas um balancê especial.
Lumaréus de fogueira aquecem o ego, queimam as divergências da vida.
Balões soltos à revelia se confundem com estrelas reluzentes.
Sobre tranças negras, chapéus de palha enfeitam feições sorridentes e corpos que vestem saias compridas de chitão.
Batata-doce, canjica, pamonha, mandioca, melado, quentão… São amontoados de guloseimas típicas.
Pau-de-sebo, pescaria, quebra-pote, busca-pé, rifa, leilão fazem-nas divertidas, hilariantes.
Pular fogueira. Existe crendice sobre isso. Pula-se uma vez e faz-se um pedido. Torna-se a pular e ratifica-se o pedido. Na terceira vez que pular, após o pulo, olha-se para cima. Se uma estrela cadente riscar o céu, o seu pedido será concretizado.
Se isso acontecer na fogueira de Santo Antônio, seu amor será correspondido.
Na fogueira de São Pedro, ganhará uma chave que abrirá a porta de um coração falto.
Das noites de junho, existe uma especial: a dos namorados. Com elas jorram juras de amor, flores, abraços e beijos.
Quando pular fogueira, o faça com asseveração – uma estrela poderá surgir no seu caminho… E tudo, então, transformar-se-á em magia, numa das noites de junho.
Edival da Silva Castro
Textos originalmente publicados no informativo O ESTAFETA.
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