Myrthes Mazza Masiero
“A morte é uma certeza, mas continua nos surpreendendo quando chega sem aviso e leva uma pessoa querida. Ficamos mais pobres. Ela consegue nos roubar a presença, mas das lembranças que ficam, nem ela pode nos separar.
Estas reflexões passaram a ocupar minha mente na tarde de 29 de janeiro, quando, a tranquilidade em que me encontrava, imerso numa leitura, foi quebrada pela infausta notícia da morte de Mirthes Mazza Masiero. Meu pensamento se embaraçou. Mergulhei numa profusão de memorias. Emergiram as figuras de Mirthes, Yeyé e Dona Dinha, figuras singulares sempre presentes na casa de meus avós paternos. Eram vizinhos da Rua Coronel Luiz Relvas e amigos de longa data. Recordo-me de que, nos meus primeiros anos, Mirthes e Yeyé me presentearam com um teatro de fantoches. As crianças presentes na festa de aniversário viajavam nas histórias que o casal interpretava.
Myrthes e Yeyé eram talhados para o teatro. Yeyé tinha uma facilidade para o desenho dos cenários. Lembro-me de algumas ilustrações que ele me deu e que, no verso, Mirthes me ensinava as primeiras letras. Quando cheguei ao Jardim da Infância, aluno de dona Letícia Frota, esta reforçou o que Mirthes havia me ensinado em casa, de maneira que, quando fui para o primeiro ano do Curso de Aplicação Duque de Caxias, já era alfabetizado.
O casal Masiero sempre foi presença em nossa família. Em determinada época mudaram-se para São José dos Campos, mas vinham periodicamente a Piquete e nos visitavam.
A vida me direcionou para outros caminhos. Estudei fora de Piquete e, já graduado, fui trabalhar em São José dos Campos. Acabamos nos reencontrando em 1986. Morávamos próximos. O interesse comum por Piquete e sua história nos aproximou e, por quase duas décadas, eu os visitava às terças e quintas-feiras. O casal, sempre saudoso da Cidade Paisagem, cognome dado pelo Yeyé à sua cidade natal, queria notícias de Piquete e dos piquetenses. Em 1997, com a criação da Fundação Christiano Rosa, ambos foram grandes incentivadores, e passaram a colaborar com o seu informativo “O ESTAFETA”.
Com a morte do Yeyé, visitava Mirthes com menos frequência. Ela me ligava e sempre me presenteava com alguma lembrança pelo meu aniversário ou outra data especial. Quando ia visitá-la, com a gentileza que lhe era peculiar, me prendia para um café com bolo e biscoitos, sorvete, chocolate, nozes ou outras guloseimas. Era difícil me desvencilhar da anfitriã que queria me agradar e ter notícias de Piquete. Gostava de recordar sua passagem pelo Departamento Educacional da FPV, a Escola Normal, os colegas de estudo, o Grupo A.R.T.E, de teatro amador, do qual fez parte. No teatro, Mirthes se descobriu artista. Representava como poucos. Tinha presença de palco. Declamava com tal paixão que prendia a atenção de todos.
Mirthes sempre foi uma estrela. Falava de seus trabalhos, de suas poesias e trovas, de cursos, de filmes e passeios. Era uma pessoa plural, extremamente ativa e solidária. Sua memória privilegiada armazenava poesias quilométricas, que recitava de cor. Gostava de falar dos filhos e netas. Avó coruja, me lembrava sua mãe, Dona Sinhá.
Ser amigo da Mirthes foi um privilégio. Enriqueceu-me muito. Sou grato pelas primeiras letras.
Surpreendido com a chegada da “indesejada das gentes” nesta segunda-feira, volto-me a Santo Agostinho: “A morte não é nada. Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do Caminho… Você que aí ficou, siga em frente, a vida continua, linda e bela como sempre foi”.
Mirthes Mazza Masiero estará sempre presente trilhando novos caminhos. Viva para sempre. Eternamente em nossas memórias.”
Antônio Carlos Monteiro Chaves
Com este texto, emocionado, o Diretor Executivo da Fundação Christiano Rosa, Dr. Antônio Carlos Monteiro Chaves, homenageia a memória da amiga e colaboradora da Fundação Christiano Rosa, Myrthes Mazza Masiero, falecida ontem, 29 de janeiro de 2024, em São José dos Campos.
Myrthes foi uma grande incentivadora da Fundação Christiano Rosa e teve muitos de seus poemas publicados no informativo O ESTAFETA, no qual foi homenageada na coluna Gente da Cidade da edição 174, de Julho de 2011, disponível para leitura aqui.
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