O maior Carnaval do Vale
Sem dúvida alguma, o Carnaval de rua promovido pelo Centro Social da FPV, que atraiu grande público de cidades vizinhas, foi o maior do Vale do Paraíba no ano de 1966.
Enorme passarela elevada e arquibancadas foram construídas na praça Duque de Caxias, iluminada e decorada com motivos carnavalescos.
A festa teve início no dia 5 de fevereiro com a escolha da “Rainha e Princesas”. Perante o juri desfilaram 17 concorrentes, sendo eleitas a rainha, Suely de Souza, as princesas Marilda de Souza e Ivone de Souza, e as damas Irene Risa e Sidneia Pereira.
No dia 20 de fevereiro, Domingo de Carnaval, aconteceu a coroação. Foi homenageada a Sra. Ivone Alves, rainha do Carnaval de 1947, e o sr. Luiz Antônio Lopes de Oliveira, Rei Momo de 1949.
Após essas honrarias, chega à passarela o Rei Momo, que recebe do general Adhemar Pinto a chave do Centro Social, oficializando, assim, seu reinado e impondo sua primeira ordem: Alegria!
Surge, então, no início do tablado, um barco “viking” de oito metros de comprimento, com um mastro de cinco metros de altura, tendo na proa enorme cabeça de dragão. Era puxado por vinte escravizados devidamente caracterizados, marcador de ritmo e feitor; tudo num colorido vibrante. Sobre o barco, magníficas, vinham a rainha do Carnaval eleita, as princesas e as damas.
Já no palanque, as princesas receberam das senhoras Nerice Pinto e Flora Aquino suas faixas. A rainha de 1965 despe-se de seu manto real e passa-o às mãos da sra. Neyda Pinto Vilela, que o coloca nos ombros da rainha de 1966. A coroa também é transferida. A partir daí, a srta. Suely de Souza passa a reinar sobre os foliões piquetenses.
Naquele ano de 1966, houve concurso de fantasias, banho à fantasia na piscina da FPV e o desfile de escolas de samba de Guaratinguetá, Lorena, Taubaté, Resende e Jacareí. Também passaram pela passarela do samba vários blocos piquetenses e o tradicional “Boi com suas burriquinhas”, que não poderiam faltar.
Antônio Carlos Monteiro Chaves
Publicado originalmente no Imagem-Memória do informativo O ESTAFETA, Edição 13, de fevereiro 1998
É proibido proibir
Apesar de o Carnaval que conhecemos hoje ser considerado brasileiro, a festa tem raízes europeias.
Historicamente, o Carnaval vincula sua procedência às festas populares em honra do deuses pagãos Baco e Saturno. Essas festas eram acompanhadas de muito vinho e orgias e caracterizadas pela alegria descabida, eliminação da repressão e da censura e liberdade de atitudes críticas e eróticas.
Marcados pelos excessos desde sua origem, os foliões escapavam das punições usando disfarces. Até a elite entrava no clima: na Itália do século XV, mascarados da nobreza escondiam a identidade e caíam na gandaia dos bailes da corte.
No Brasil, o Carnaval chegou com os colonizadores portugueses, com o costume de sujar uns aos outros na festa do Entrudo.
O que começou com o uso de máscaras e perucas é hoje uma das principais atrações do Carnaval. Mais do que um clima de disfarces, nossa festa de rua fica, a cada ano, mais repleta de fantasias criativas e curiosas.
Comemorado de formas diferentes em vários pontos do mundo, o Carnaval sofreu transformações ao longo dos tempos. Isso pode ser constatado, especialmente no Brasil, onde esta manifestação popular varia nas diferentes regiões. É uma forma de expressão cultural em constante modificação, que nos liga ao nosso passado, ao presente e nos projeto para ao futuro.
O Carnaval é um estado da arte, em que as tradições milenares são projetadas pela criatividade aliada ao poder econômico e à sedução.
Os antropólogos consideram o Carnaval como “rito de inversão”, momento em que valores e hierarquias são contravertidos. Carnaval é tempo de fantasias. Liberamos nossas fantasias exibicionistas e procuramos externar as emoções: medos, raivas e desejos. O Carnaval torna-se espelho da realidade social, reflete duplamente e de forma alegórica a imagem invertida e contraditória da sociedade ao som dos tambores para produzir um transe utópico. Inverte-se o dia pela noite. Pobre vira rico, rei e rainha, homem vira mulher.
Muitos associam o carnaval à desordem. No Carnaval só há uma regra: é proibido proibir! No entanto, sempre houve controle sobre os excessos por parte das autoridades. Consultando o Código de Postura Municipal da Vila Vieira do Piquete, promulgado pelo prefeito José Dias da Silva em 1914, encontra-se em seu capítulo sexto, que trata de divertimentos públicos, nos artigos 53 e 54: “São proibidos os bailes de pessoas de má vida denominados fusos, os batuques, sambas, cateretê, cana verde, os toques de tambores, rufos etc, algazarras a pretexto de festas, sob pena de multa que será imposta ao dono da casa”. “É proibido, ainda, o jogo de entrudo com água, oca, tintas e outras substâncias e bem assim a venda de limões de cheiro, sob multa e destruição imediata dos objetos a isso destinadas”.
Apesar das proibições, ao longo dos tempos o Carnaval as vem superando todas e, mesmo com os excessos, é tolerado pela maioria das pessoas. É o divertimento máximo do povo. Pagão e livre, simboliza a igualdade. O disfarce nivela a todos e esconde mágoas e tristezas, rancores e vinditas, amores e paixões.
Dançar, cantar, folgar e dar ao corpo e ao espírito maior independência, sons, cantos, frenesis, cores, cheiros, príncipes, bruxas, índios, diabos, pierrôs, cupidos, palhaços, burros, bufões, máscaras alegres e tristes… Assim é hoje. Assim foi ontem… De qualquer maneira, o importante é se divertir.
Antônio Carlos Monteiro Chaves
Publicado originalmente no Imagem-Memória do informativo O ESTAFETA, Edição 205, de fevereiro 2014 – Clique AQUI para acessar.
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