Desastre da Central do Brasil no ramal de Piquete
O “Piqueteiro”, como era conhecido nosso tradicional trenzinho do ramal da Central do Brasil, trafegava seis vezes por dia de Lorena por dia de Lorena a Piquete e vice-versa. Inspirou muitas crônicas e notícias desde sua primeira viagem, em 15 de setembro de 1906 até a última, em 31 de dezembro de 1977. Faz parte de nossa memória.
Diariamente, esse comboio transportava vários carros de passageiros, que viajavam superlotados. Além dos usuários da cidade, estudantes e viajantes, chegou a transportar quase mil operários – chefes de família que residiam em Lorena e trabalhavam na FPV.
A viagem de ida e volta, no percurso diário do operariado, que durava quase duas horas, provocou, ao longo dos anos, saborosas crônicas, que foram publicadas em periódicos como: Folha de Piquete, O Labor, O Regente, O Sentinela e Folha Piquetense. Cronistas vários deixaram-nos ótimos relatos: J.Christian, Luiz de Castelar, João Vieira Soares, Carlos Vieira Soares, Chico Máximo, Eunice Ferreira, Dóli de Castro Ferreira, José Palmyro Masiero e outros. Através desses relatos, hoje podemos fazer considerações sobre a importância histórica do ramal férreo para Piquete.
Ao longo do tempo, o “Piqueteiro” teve muita sorte, pois os acidentes no ramal foram poucos. Transcrevemos, a seguir, um dos acidentes ocorridos nos setenta e um anos do ramal férreo e reportado para O REGENTE, nº 10, de 1 de setembro de 1958, por J.A.C.Ferreira:
“Dia 19 de agosto p.p. ocorreu tremendo desastre entre os kms 15 e 16 com o trem que faz o percurso diário entre Lorena – Piquete e vice-versa, de horário de partida de Piquete às 11,05 hs.
A catástrofe foi causada por um parafuso que prende o trilho ao dormente, com 15 cm mais ou menos de comprimento por meia polegada de espessura, colocado entre a união de dois trilhos.
Tão logo chegou a notícia do ocorrido, este repórter acorreu ao local, onde pôde averiguar os danos causados por indivíduo despido de caráter, de responsabilidade ou por brincadeira de criança, o que ainda não foi apurado.
O comboio, ao atingir a ladeira que fica nas imediações da Parada Bela Vista, perdeu a velocidade devido à rampa um pouco íngreme, o que não permitiu maiores danos.
A máquina, ao bater de encontro ao citado parafuso, saltou da linha para projetar-se de encontro ao solo a uns cinco metros de distância, ficando totalmente avariada.
Também o vagão de encomendas tombou de encontro a um barranco, danificando o primeiro carro de passageiros, que descarrilhou. A batida violentíssima chegou a partir um trilho ao meio.
Para a felicidade de todos, não houve mortos, ficando o maquinista, senhor Moacir Amaral, com uma queimadura de segundo grau nas costas, ao passo que o foguista, senhor Jarbas Antônio dos Santos, sofreu leves escoriações nos joelhos.
Os socorros foram imediatamente solicitados pelo agente da estação local, e com os trabalhos eficazes dos trabalhadores pôde, já no dia seguinte, estar desimpedida a linha, permitindo, portanto, que os trens voltassem a trafegar normalmente”.
O repórter fotográfico, autor das fotos aqui publicadas, foi o senhor Dogmar Meireles Brasilino.
Publicado originalmente na coluna “Imagem-Memória” do informativo O ESTAFETA, edição 18, de julho de 1998
Antônio Carlos Monteiro Chaves
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